"Garganta Profunda", 40 anos depois
Até onde uma mulher vai para alcançar o prazer?
O clássico do
cinema pornô “Garganta Profunda” (Deep Throat, em inglês) completou 40 anos em
2012. Para quem não lembra, o filme chocou a sociedade norte-americana, quando
foi lançado, em junho de 1972, com a história de Linda, uma mulher que só tinha
prazer com sexo oral, pois seu clitóris ficava localizado na garganta em vez de
na vagina.
Em meio a onda de protestos provocada pela exibição do filme, muita
gente na época apostava que Deep Throat e a enxurrada de filmes pornográficos
que foram feitos depois e que incluia outros 'clássicos', como Emannuelle,
ajudaria a eliminar muitos tabus que na época envolviam a sexualidade 40
nos depois, Maria Helena Vilela, educadora sexual e diretora do Instituto
Kaplan, concorda. O filme ajudou as pessoas a incluírem o sexo oral no seu
repertório sexual e a falarem sem constrangimento sobre a prática: “Nos anos 70,
os homens faziam sexo oral apenas com prostitutas, mulher ‘de bem’ jamais faria
sexo oral no marido. Hoje, passou a ser parte das preliminares. Ninguém mais se
assusta de admitir que faz sexo oral”, diz.
75% dos casais ocidentais pratica sexo oral hoje
Segundo
a psicanalista e escritora, Regina Navarro Lins, com o movimento da
contracultura, o movimento feminista e a invenção da pílula anticoncepcional, o
sexo ‘para fins reprodutivos’ deu lugar ao ‘sexo para dar e receber prazer’.
Resultado, o número de pessoas que praticam sexo oral hoje é altíssimo:
“Atualmente existem pesquisas que apontam que 75% dos casais ocidentais fazem
sexo oral, sendo que, 40% deles, praticam com frequência”,
declarou.
Nos EUA, fala-se em epidemia de sexo oral entre os
jovens
Nos grandes centros urbanos, o assunto passou a ser discutido nas
escolas e criaram-se até cursos que ensinam as mulheres como fazer sexo oral.
Nos Estados Unidos, pesquisa recente do John Hopkins Bayview Medical Center
descobriu que entre 1994 e 2004 mais que dobrou o número de jovens de 12 a 24
anos que relataram já ter feito sexo oral. A divulgação dos resultados causou
furor, virou pauta no programa de Oprah Winfrey e ganhou destaque em editorial
do New York Times, ambos veículos chamando a atenção para uma epidemia de sexo
oral entre os adolescentes.
Sexo oral: um favorito na terceira idade
No Brasil,
não se fala em epidemia, mas sim de uma maior aceitação da prática. E não só
entre os mais jovens. Depois da invenção daquele famoso comprimido para
disfunção erétil, o sexo oral também é um favorito entre indivíduos da terceira
idade. “De 100 pacientes que me procuram, 90% praticam, independente da faixa
etária”, contou o urologista, sexólogo e terapeuta sexual Celso Marzano, que tem
clínica em São Paulo.
As mulheres fazem mais sexo oral do que recebem
Apesar de
toda liberação, existe um ponto que intriga os especialistas: as mulheres
continuam fazendo muito mais sexo oral nos homens do que recebendo. Segundo
Maria Helena, enquanto 80% dos homens gostam de receber sexo oral, entre as
mulheres que declaram gostar de receber esse número cai para algo entre 40% e
50%.
Essa conta não fecha por alguns motivos. Primeiro, sentem-se mais à
vontade para pedir e, segundo, existiria uma repulsa em relação à prática por
parte do parceiro ou da própria mulher. “As mulheres gostam de receber, mas
existe um certo preconceito. Essa coisa do cheiro da vulva afasta o homem e elas
não se sentem livres para receber”, analisa a diretora do Instituto
Kaplan.
Regina Navarro reforça a ideia: “A maior preocupação da mulher com
o sexo oral é o cheiro”, diz a psicanalista que ainda conta que existem mulheres
que têm tanto nojo do próprio cheiro que chegam a dizer: “Se fosse homem jamais
faria uma coisa dessas”.
Nada que um bom sabonete íntimo não possa
resolver e hoje existem opções nas farmácias e supermercados para todos os
bolsos. Vale lembrar que esse tipo de produto é especialmente desenvolvido para
essa área do corpo: “Nada de passar perfume ou desodorante”, aconselha Celso
Marzano.
Sexo Oral e DST’s (Doenças Sexualmente
Transmissíveis)
Nos anos 70, quando “Garganta Profunda” foi lançado, o
conceito de sexo seguro não fazia parte do repertório das pessoas. Hoje, os
especialistas são unânimes: sexo só com proteção, sobretudo o oral. A
recomendação é que os homens usem camisinha e que as mulheres, na falta de um
produto específico, improvisem, cobrindo a área com filme plástico ou com uma
camisinha cortada.
De acordo com Maria Helena, é mais difícil contrair HIV pelo sexo
oral, mas não impossível, principalmente se houver alguma ferida na boca e a
mulher engolir o esperma. Ela ressalta que o risco é sempre maior para quem está
fazendo do que para quem está recebendo e alerta também para a coleção de DST’s
que é possível contrair através da prática: “Doenças eu seriam dos genitais,
como herpes, sífilis, gonorreia e HPV podem pegar na boca”, avisa a educadora
sexual.
"Garganta profunda" é uma variação de sexo oral que exige a
penetração profunda do pênis na boca até atingir a garganta. A língua fica
imobilizada, não há movimento de sucção. É o vai e vem do pênis na estreita
passagem da garganta que garante intenso prazer para o homem
O escândalo no lançamento do filme
Quando foi lançado, em
1972, no World Theather, no coração de Manhattan, Deep Throat provocou um
escândalo que durante alguns anos ocupou os juristas americanos. Em meio a uma
série de denúncias e de processos, o filme conseguiu ser exibido nos grandes
circuitos de cinema de Nova York, coisa absolutamente impensável em se tratando
de filmes do gênero. O barulho foi tanto que mereceu um artigo no New York
Times, escrito pelo jornalista Ralph Blumenthal, com o título Porno Chic, no
qual ele dizia que discutir Deep Throat tinha virado moda nas festas do jet set
e que personalidades como Truman Capote, Warren Beatty e Jack Nicholson eram
vistos engrossando as filas nas salas de cinema que ousavam exibir o filme. O
fenômeno Deep Throat ajudou a lançar uma onda de filmes pornográficos que
floresceu durante algum tempo enquanto alimentava iradas discussões entre
intelectuais, feministas e religiosos. Linda Lovelace (a protagonista de
"Garganta Profunda") seria o protótipo de mulher liberada ou a encarnação da
mulher-objeto?
“Garganta Profunda” é o filme pornô mais lucrativo de todos os
tempos. Filmado com um orçamento de US$ 25 mil arrecadou US$ 600 milhões e
colocou o sexo oral, literalmente, na boca do povo. A cinebiografia da atriz
principal, Linda Lovelace, está programada para sair nos cinemas em dezembro
deste ano e vai trazer Amanda Seyfried, de "Mamma Mia" e "Cartas a Julieta", no
papel da estrela pornô, que morreu em virtude de um acidente de carro, em
2002.
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